Depois que eu fechei a porta, ainda em estado de choque, não acreditei que ele estava ali. Seu olhar tão doce e pronto pra me seduzir, me dizia que eu deveria ter batido com a porta na sua cara, sem deixa-lo entrar. Sua voz rouca, meio falhada e quase sussurrada dizendo “surpresa” fez com que meu corpo inteiro estremecesse. Por que ele não avisou que viria? Depois de tanto tempo, eu começando a me sentir livre ele reaparece. E a única coisa que eu consigo pensar é que é impossível resistir a ele. Aos seus braços, seus beijos, seus sorrisos e suas ladainhas que me convencem de coisas que eu não quero acreditar. Tal e qual um vício que é quase impossível largar. Que é difícil de superar. Que me embriaga e alucina. Me deixa totalmente fora de mim. Eu não sabia que ele viria. Se soubesse, talvez tivesse organizado minha casa e meu corpo para recebe-lo. Ou teria fugido para não cair em tentação normalmente. Eu não entendo sua volta. Não sei porque insiste em voltar depois de tanto tempo. Não consigo aceitar essa sua indecisão em saber se vai ou se fica. Mas me entrego ao seu jogo, me deixo cair em seus braços e sei que depois a abstinência irá doer. Ele chegou de surpresa, mais uma vez. Veio me visitar como em tantas outras noites. E eu o deixei entrar. E mesmo que seja somente em meus sonhos, mesmo que eu sabia que eu preciso superar, ele ainda está por aqui, dentro de mim, me fazendo lembrar que eu ainda o amo.
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Esse conto foi baseado na música "Eu não entendo sua volta" da banda gaúcha Nenhum de Nós.
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