Eu não conseguia olhar nos olhos dele. Passava um filme na minha cabeça de todas as outras vezes que me machuquei, me magoei, chorei e me senti um lixo. Ele estava ali, na minha frente, com a mão estendida e tudo que eu pensava era "preciso sair daqui". Nenhuma das palavras que saiam da sua boca, tocavam meu coração. Era como se parasita, que vive dentro de mim, ouvisse tudo e transformasse em coisas negativas.
Aquele parasita, que foi alimentado por tantos outros relacionamentos frustrados, sugava minha alegria, minha energia e me apontava para um caminho onde eu seria para o resto da minha existência sozinha e infeliz. O parasita não deixava eu me iludir que poderia ser diferente. Não permitia eu imaginar momentos bons. Ele estava ali para me lembrar de que eu seria magoada novamente. Eu não sentia nem medo porque o parasita já havia tomado a decisão por mim. A mão continuava estendida. Ele esperava uma resposta, esperava que eu segurasse sua mão e fosse embora com ele, para o felizes para sempre, mas o parasita afirmava "preciso sair daqui". Sem dizer uma única palavra, eu dei as costas e fui embora. Não olhei para trás. Se eu olhasse, o parasita não me perdoaria por hesitar. Sai caminhando e pensando até quando eu deixaria que outra coisa controlasse minha vida, meus desejos, vontades ou sentimentos. Por que? Por que eu deixei o parasita se instalar e nunca lutei contra ele. Por que eu seguia deixando ele dominar minha vida. E se fosse diferente? E se realmente a história com Pedro pudesse dar certo? E se realmente existe um "viveram feliz para sempre?". Claro que eu sabia que o para sempre é modo de dizer e que ninguém é feliz para sempre, o tempo todo. Mas eu poderia ser feliz a maior parte do tempo, ao contrário do que o parasita fazia comigo me deixando triste em período integral e não permitindo que eu sequer imaginasse momentos felizes. O para sempre poderia ser feito de agoras, de momentos e de situações. Mas o parasita não deixava. Realmente era isso que eu queria. Viver triste para sempre com o parasita. Deixando ele dominar minha vida e sendo o meu rumo. Se não fosse isso, por que eu não expulsava ele de dentro de mim? Era só reagir. Era só dar uma chance ao Pedro. Apenas deixar com que eu me permitisse sentir, qualquer coisa que fosse, e viver. Mas mais uma vez eu escolhia o parasita. Se eu tentasse com o Pedro e ele não me fizesse feliz, o parasita me atacaria com mais força e, talvez, fosse o fim de tudo. Ele me destruiria e ai não haveria mais chance para mim. Mas por que o Pedro teria que me fazer feliz? Porque eu não poderia ser feliz com o Pedro? Existia uma diferença ali, que eu não enxergava. Eu não precisava de outra pessoa para ser feliz. Eu precisava apenas de mim. O Pedro deveria ser um complemento da minha felicidade. Estava tudo errado. A minha vida toda fiquei esperando pelos outros para ser feliz, para que me amassem, para que transformassem a minha vida. Há quanto tempo, quantos relacionamentos, eu esperei por isso? Quantas vezes me deixei iludir que aquele era o cara que me faria feliz, mas eu estava procurando no lugar errado. Talvez o parasita sempre morou dentro de mim. Sempre se alimentou dos meus sentimentos, das minhas inseguranças, minhas risadas e vitórias. Talvez ele sempre tenha me mantido cega. Definitivamente não era o amor de outra pessoa que me faria feliz, era o meu amor próprio. Me virei para trás. Pedro seguia sentado na mesma mesa, me olhando partir, com os olhos marejados, sem entender o que tinha acontecido. Comecei a correr em sua direção. O parasita tentou me paralisar. Mas eu não queria mais deixar ele me dominar. Pedro se levantou e eu cai nos seus braços. Sem entender nada, apenas me abraçou forte e enquanto o parasita se contorcia dentro de mim, tentando se libertar daquele abraço eu senti uma euforia gigante e, em um segundo, eu entendi que se eu seguisse naquele abraço o parasita adormeceria, mas eu precisaria todos os dias, reafirmar, que eu queria ser feliz com as pequenas coisas e, nunca, mais nunca mais mesmo, deixar ele me dominar. Mesmo que eu chorasse, me decepcionasse ou me frustrasse na vida, com qualquer coisa, quem acordava e alimentava o parasita era eu.
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