Eu não posso gritar teu nome. Não alto e muito menos baixo. Não consigo pronuncia-lo. As sílabas, que juntas formam como te chamam os outros, são um som profano saído da minha boca. Te chamarei de amor, príncipe, rei ou lindo... mas jamais pelo teu nome.
Grita-lo quando tuas mãos tocam minha pele ou teus lábios envolvem os meus é sacrilégio em minhas orações. Se na minha garganta fica presa essa palavra, que designa quem tu és, ela ali permanece abafada e ruidosa sem forças pra sair. Teu nome não é só teu. E eu não fui só tua. Antes de ti outro teve este nome.
Não preciso explicar. O que é passado é passado e esse não deve ser revelado. Entenda apenas que as letras que dão som a forma como fostes batizado são as mesmas que embalaram minhas lágrimas em tempos remotos.
Guardo essas mesmas letras tatuadas em minha carne. Para lembrar-me do outro. Da dor de sua partida, da fragilidade de uma vida. Da desilusão de um amor interrompido. Não me arrependo, mas não me peça que te chame por este nome. Eu não sou capaz de pronuncia-lo.
Na voz dos outros teu nome soa como música aos meus ouvidos. Na minha voz ele carrega a amargura de outras histórias. Tuas letras ficam lindas quando desenhadas por outras mãos. Nas minhas elas se tornam borradas.
Será possível que o destino me reservou amar novamente um mesmo nome de pessoas tão iguais e diferentes? Será que um dia conseguirei pronunciar outra vez esse teu nome sem que sinta o peso de tudo que já se passou? Não sei. No momento não sou capaz de dizer em voz alta, que o nome que tanto me aflige, hoje me consola.
Talvez um dia eu te chame, num momento de luxuria e de entrega, sem que pareça que eu estou chamando o outro, o antes de ti, que até hoje, mesmo contigo, parece que foi o único.
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