Eu pensei que você poderia ser. Ser aquele cara. Aquele que ia me livrar das sensações de ausência que os outros deixaram. Eu imaginei, por noites em claro e madrugadas sedentas, que você era o cara. Aquele. O cara. O último. O certo. O ideal.
Eu idolatrei cada parte de você. Do seu corpo. Da sua alma. Do que eu queria que fosse o final. Não o final da história, mas o final da estrada, a linha de chegada redentora. O gol de placa. O final da busca. A busca pelo cara. Aquele cara.
Eu fantasiei por horas a fio. Construí cenários, cenas de conteúdo altamente erótico e abraços apertados. Você era o protagonista do meu romance ideal. Mesmo que você não fosse o ideal. Foram sonhos, acordada e dormindo, anos luz de energias emanadas, do meu corpo, do seu toque, da fricção causada por nós dois. Amores em claro, noites sombrias, tudo em preto e branco no contraste da tua língua na minha boca.
Eu só não sabia que você não poderia ser. Ou não queria saber, vai entender? Eu me apeguei a tudo, ao cheiro, gosto e maciez da tua pele. Eu me entreguei na tua mão. Deixei me manipular, me sentir, me fazer sentir. E em cada detalhe talhado como orgasmo em minha memória, você ocupou espaço. Por um tempo o vazio acabou, a distância se foi e a urgência acalmou. Na fração do segundo de um sorriso, um suspiro, um gemido ou um sussurro. Na medida dos pelos se ouriçarem e se tranquilizarem.
Então eu percebi. A urgência é minha. O vazio sou eu. A imperfeição se traduz em olhares que observam, atentos e serenos, cada movimento desse jogo de tabuleiro. Xeque-mate. Não foi você. Fui eu que idealizei demais.
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