Dizem que o tempo é o senhor de todas as coisas. Que ele cura as dores de amor, as desilusões e sofrimentos. Que apenas ele é capaz de esquecer tudo que um dia foi ou não. Até mesmo as marcas mais profundas ele alivia.
Como aquela cicatriz do joelho ralado que com o passar dos anos foi diminuindo e se tornou apenas um borrão na pele. Ou aquele beijo apaixonado de quando se era adolescente, que hoje apenas parece uma ação. Sem memórias de cheiros, gostos e sensações.
Dizem que o tempo alivia a dor da saudade, a falta do outro, ensina a conviver com as ausências. Ele também pode ser o culpado pelas chances que deixamos passar. Quem nunca usou a desculpa da falta de tempo para não fazer algo que não estava tão afim assim?
O tempo é relativo apesar de sua contagem ser extremamente precisa. Quando queremos ter tempo ele existe. Quando não queremos, ele é escasso. Ás vezes segundos duram a eternidade na ansiedade de uma resposta. Ou horas viram segundos na euforia de um momento.
Não sei bem se hoje tenho mais tempo ou menos tempo que antes. Na teoria, a cada aniversário que passa, eu tenho menos tempo para fazer tudo que ainda quero um dia fazer. Na prática, aprendi que eu comando meu tempo e que aproveita-lo ou não depende muito mais dele do que dos ponteiros do relógio.
Já não concordo mais que o senhor de todas as coisas me é capaz de fazer esquecer. Não observo com ansiedade o seu passar, como há vinte anos vazia. Hoje lhe peço piedade para que seja devagar. E leve. Para que eternize os momentos de felicidade, porque os de tristeza eu já deixei para lá.
Se o tempo é o senhor de tudo e tudo depende dele, quero sempre mais tempo. Mais tempo para viver, para amar, para sorrir, para sentir. Quero que ele seja eterno nos dias ensolarados. E nos nublados também. Afinal, o que seria de nós se não houvesse todas as experiências?
Me falta tempo. Mas me sobra também. E nesse jogo de esconde esconde da vida, onde quem comanda são os dias do calendário, eu me pergunto quanto tempo perdi durante anos me preocupando com as coisas erradas. Porque hoje eu entendo bem mais do relativismo temporal, do que quando eu me deixei levar pela ansiedade de crescer.
O tempo não volta atrás. É impossível querer que ele lhe devolva os anos que passaram. Não existe a possibilidade de que ele pare também para que você aproveite agora cada segundo eternamente. Só nos resta então pedir que ele seja doce e saber que aproveitar ou não o tempo, depende mais de você do que dele.
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