Um dia eu conheci um guri, um piá, para ser mais sincera. Daqueles que jamais passariam da sala de estar, se é que me entendem. Para mim, pai e qualquer pensamento ou reflexão ligada ao assunto paternidade abria na minha caixinha de memórias um arquivo chamado Bimbo Aranha (meu pai).
Nunca pensei naquele piá como pai. Nem pensava que ele passaria da sala de estar. Mas de alguma forma ele burlou a segurança e avançou em direção a sala íntima. Nessa sala, ele conheceu uma garotinha, em pleno gozo de seus oito anos, mimada e cheia de ciúmes da mãe (essa que vos fala).
O piá e a garotinha começaram a criar um sólido relacionamento, baseado em desenhos japoneses que viam e compartilhavam até altas horas da madrugada. A mãe, achava o piá mais piá ainda e não percebia o quão homem e pai ele se tornava a cada dia da garotinha.
Ele ganhou respeito e um espaço maior. Passou de piá a guri. Podia circular em outro cômodos daquela vida, mas não tinha direito ainda ao quarto. E a garotinha, mesmo se esforçando para manter a fama de má, a cada dia deixava ser um pouco mais conquistada.
O guri tinha que tomar decisões e atitudes que podiam ou não mudar o rumo daquela história e o levariam ou ao quarto ou para fora da casa. Ele cresceu, se tornou homem. Conquistou suas terras, armou-se para uma batalha, foi a guerra e venceu. Conquistou o tão sonhado quarto. E mesmo sem nunca ter sido chamado de pai, agia, como um zeloso, daqueles capazes de matar um leão para defender o seu cordeiro.
E como ele defende… Por mais que as brigas, farpas e fagulhas sejam constantes, nunca, jamais fale mal da sua garotinha. Se ser pai não é isso, então eu não sei o que é. Talvez, seja difícil compreender o que é se tornar pai de repente. Sem a espera, sem os 9 meses necessários para a gestação e o amadurecimento. Ok, foram madrugadas e madrugadas de desenhos. Lições de matemática, brincadeiras e brigas. Tudo para torná-lo o melhor pai que uma garotinha poderia ter.
Tive o privilégio de ver o piá se tornar pai. Tive o privilégio de ver ele se tornar homem, marido, companheiro e amigo.
Aprendemos muitas coisas juntos e também brigamos muito. Tivemos altos e baixos, pensamos em nos separar algumas vezes, nos decepcionamos um com o outro. Mas nunca perdemos a admiração pelo outro.
E de repente, quando a gente não esperava o pai, virou pai ao quadrado. Com direito a acompanhar a descoberta da gravidez, do sexo, o primeiro chute, o primeiro soluço e o nascimento. Vi seus olhos se encherem de lágrimas ao pegar seu filho nos braços. Um amor tão sublime e incondicional para aquele que ele esperou 9 meses para conhecer que não permitia que ele soltasse o bebê no berço.
Foram noites insones. Dias longos distantes, telefonemas com a voz embargada por estar longe. O primeiro sorriso, o orgulho daquele ser tão pequeno ser tão perfeito. A primeira risada, as primeiras engatinhadas. Tanta coisa em 10 meses de uma alegria tão profunda.
Esse não é o primeiro dia dos pais que comemoramos juntos. São 8 anos de dia dos pais que sempre lhe presenteamos, homenageamos e fazemos suas vontades. Mas é o primeiro dia dos pais do Pedro Henrique. E se ele já era o melhor pai do mundo antes, agora ele é o melhor pai de todas as galáxias. Desculpem os outros pais, mas quando me falam sobre paternidade a minha caixinha de memórias se abre em um arquivo chamado Paulo Rodrigues.
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