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O moço gentil

Não dava pra fingir que nada acontecia. Estava escrito na testa dela. Seu medo exalava pelos poros e o cheiro que todos sentiam denunciava sua angustia. Estava mentindo.

Não aguentava mais esperar. sabia que em breve todos descobririam. O que ia fazer? O que poderia fazer? O que realmente dava pra fazer numa situação daquelas?

Enquanto andava pelas ruas, apressada, Verônica não conseguia pensar em outra coisa se não em seu problema. Não podia voltar pra casa, não podia ir pro escritório, não podia ir a lugar algum em que fosse conhecida. Todos sabiam que ela estava mentindo estar bem. Fazia dois dias que carregava aquela angustia.

Quanto mais o vento batia em seus cabelos mais nervosa ficava. Mais medo sentia. Deveria ir a polícia? Deveria fugir da cidade? Mas pro onde iria...

Um hotel. No caminho dela, uma espelunca melhor dizendo. Se entrasse ali poderia pensar. Analisar e quem sabe encontrar alguma solução.

O homem da recepção, um tipo esquisito com uma camisa xadrez, um palito no canto da boca, uma barriga que não deixava a camisa ser fechada embaixo e um boné azul pedia sua identidade. Deveria dar? E se estivesse sendo procurada? O que devi fazer?

Por um minuto encarou o homem sem saber o que fazer. O homem olhava intrigado e ela olhava desconfiada. Entregou a identidade e pegou a chave do quarto. Subiu. Até que o quarto não era tão ruim. Sentou na cama e ficou ali pensando em tudo que tinha acontecido.

Ele era tão doce.Tão educado. Um verdadeiro cavalheiro. Naquele dia, sentado a mesa no café da esquina de seu trabalho, sorrindo pra ela e sendo tão gentil. Assim se conheceram e passaram a se encontrar todos os dias no mesmo horário no café.

Duas semanas que se encontravam quando ele convidou ela pra sair. Ela ficou meio insegura, mas que mal havia? se falavam todos os dias e ela era tão especial. sabia tudo da vida dele, sobre sua mãe doente, seu trabalho cansativo, sua ex mulher, seus filhos. Ela aceitou o convite.

Pontualmente no horário combinado ele estava lá. Disse que tinha preparado uma grande surpresa pra ela. Verônica o achou tão lindo e aquele ramalhete de flores. Quanto romantismo. Andaram de carro pro mais ou menos uma hora quando ele estacionou no pátio de uma casa magnifica.

Entraram. Tomaram vinho. Conversaram por alguns minutos. Ele pediu licença e em seguida o pesadelo começou.

Verônica nem entendeu quando ele voltou aos gritos, com um chicote na mão mandando ela tirar a roupa e chamando de vadia. Foi muito rápido. Ele veio pra cima dela. Ela tentou se defender. Ele começou a bater nela. Ela o empurrou. Ele caiu batendo a cabeça na quina da mesa. A poça de sangue se formou no chão. Ela ficou olhando, assustada, saiu correndo.

Pensou em tomar um banho. Precisava fazer alguma coisa, mas o que? Limpa talvez pensasse melhor. Encheu a banheira da espelunca. Não era tão ruim assim. Tinha uma televisão no banheiro. Resolveu liga-la enquanto relaxava.

Plantão da globo: Foi encontrado morto o mais procurado estuprador e torturador de mulheres do Brasil. A polícia ainda não tem pistas mas muitas mulheres estão querendo saber quem é o maior herói de todos os tempos. E no fim da reportagem a foto dele.

Ele. Aquele homem tão meigo. Aquele louco. Aquele que estava estirado no chão depois do seu empurrão.

Verônica saiu da banheira, vestiu-se, pagou a conta do hotel e foi a polícia. Era o certo a fazer.

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