O encontro impossível aconteceu. Anos mais tarde no aeroporto, na Ilha do Governador. Enquanto o avião se aproximava com a vista deslumbrante, das primeiras horas da manhã na Baía de Guanabara, ela lembrava-se da última vez que tinha estado ali e, por um segundo seu coração acelerou: "Bobagem", pensou.
Ela vinha, ele ia. Se esbarraram por acaso na banca de revistas. Ela comprava uma revista política, ele uma playboy. Sem querer trombaram. Ele pediu desculpas sem prestar atenção. Ela sem levantar a cabeça disse: "não foi nada".
A voz que ecoou no tímpano dele fez seu coração disparar e suas mãos suarem frio. Lembrou da última vez que havia sentido isso. Olhou rápido, mas ela estava de costas. "Só porque estou aqui meu inconsciente está tentando me pregar uma peça", pensou ele ingenuamente.
Dirigiu-se ao caixa, ela parou na fila atrás dele. Achou familiar o jeito do moço da frente, mas nem perdeu tempo em associar ao presságio que havia sentido no momento em que o avião pousava. Ele pagou e ia sair quando de novo a empurrou.
Virou-se para, novamente, pedir desculpas e seus olhos pararam atônitos, imóveis no que estava vendo. Ela mal conseguiu pensar, naquele momento só conseguia enxerga-lo, mas parecia que não estava vendo. Ele sorriu e a cumprimentou. Ela não sabia se o abraçava ou se sentava a mão em sua cara. Dez anos! Dez anos fazia que não se viam, que não tinha notícias dele.
Ele convidou para tomar um café, ela queria atirar o café nele. Pensou em porque não se encontraram mais, lembrou de como foi a despedida e suas pernas amoleceram. O que ele fazia ali, agora? Perguntou. Ele ia viajar a trabalho, mas seu vôo estava atrasado, e só sairia a noite. Ela estava chegando a trabalho, mas sua reunião só seria no outro dia. tinha se adiantado em função do caos aéreo.
Parecia um dejavu. Foram passear pela Ilha, cenário da grande paixão que haviam vivido tantos anos antes. Ele sorria e contava suas viagens. Ela queria saber porque ele nunca havia lhe telefonado, mas não tinha coragem.
Andaram por aquele recanto tão abençoado por Deus. com cheiro de mar e jeito de cidade pequena, que nem parecia fazer parte da agitação do resto da cidade.
Foram a praia da Bica, caminharam olhando o movimento e jogando conversa fora. A todo momento ela não entendia o que estava acontecendo e por mais que quisesse refletir, ele falava tanto que a deixava confusa em seus pensamentos. Por sua vez, ele pensava que quanto mais falasse menos chance daria pra que ela questionasse o que havia acontecido.
Lembraram do dia que passaram juntos, daquela mesma forma, se conhecendo ao acaso. dentro do aeroporto, dividindo uma mesa, na praça de alimentação. Era final de férias de verão. Ela tentava voltar pra casa, ele tinha um congresso. Ambos precisavam pegar o avião, mas nenhum dos dois havia conseguido.
O aeroporto lotado. Ele sentado tomando chá mate e comendo pão de queijo, ela de pé com uma bandeja de fast food, procurando lugar pra sentar. Ele convidou, ela aceitou. Começaram a conversar. Primeiro reclamaram dos atrasos nos vôos. Depois sobre a vida, piadas e amores. O vôo dela foi anunciado. Só partiria no outro dia. Chamaram o dele. Só de madrugada. O que fariam?
Resolveram passear pela Ilha do Governador pra se distrair. Depois de tantas risadas e conversas ele falou: " Foi amor a primeira vista". Ela concordou. Amaram-se até a hora do vôo dele. Mil promessas e juras de amor trocadas. Ele ligaria assim que voltasse do congresso. Ela esperaria ansiosa.
Voltou para sua cidade e contava para as amigas que não acreditavam em tamanha loucura. Com o passar do tempo, as amigas passaram a sacanear ela: " Você imaginou tudo isso". Ele nunca ligou.
Depois de tanto recordarem ela criou coragem e perguntou: "Por que você nunca ligou?"
"Perdi o guardanapo", foi só o que ele disse. Ambos deram risadas. trocaram beijos e abraços, juras e promessas e voltaram pro aeroporto.
O vôo dele foi anunciado. Despediram-se. Ele saiu. Ela pegou um táxi. Ele pensou: "Não peguei o telefone dela". Ela sorriu: " Mais uns dez anos e encontro ele de novo".
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