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Num livro qualquer

Eu escondo meu rosto atrás de uma xícara de café. Escondo meus sentimentos em palavras repetidas, frases feitas e promessas que não vão se cumprir. Conto histórias que não são minhas, mas poderiam ser. Escuto músicas que me fazem lembrar coisas que eu não vivi.  Minhas feridas estão escondidas em imagens coloridas. Ninguém pode ver as marcas que o tempo e a dor deixaram lá. Minhas escolhas me assustam mais que me aliviam e ainda assim eu sigo beirando a vida, como que propositalmente buscando a morte. 

Eu converso com pessoas que me veem, mas não me enxergam. Que escutam mas não ouvem, que tocam mas não sentem. Eu falo com pessoas que tem os melhores momentos da vida, mas no segundo seguinte eu já sou passado. E de alguma forma eu nem mesmo faço parte dessas lembranças.  Meus sonhos se tornam histórias, meus amores romances e minhas frustrações dramas. Todos consumidos avidamente por pessoas que procuram algum conforto nas páginas de um livro qualquer. Mas no final lembram-se apenas da personagem. Ela seria real ou imaginária? Seria possível viver assim? Quem escreveu não importa. Nem sua vida, nem seus sentimentos. O que importa é que o autor jamais pode matar a personagem amada se não ele passa a ser o ser odiado. Eu transformo sentimentos em palavras e talvez você já tenha me levado para sua cama inúmeras vezes. Mas não sou eu quem você quer, é a outra pessoa, aquela que te fez buscar consolo em mim. 

 E se me perguntarem, por acaso, em algum dia cinza, se valeu a pena tantas horas de viagens por lugares inimagináveis, tantas noites com a cabeça fervilhando e o coração sangrando, eu responderia, com certeza, que só não valeria a pena, se você não estivesse agora me olhando, com uma lágrima no olho, pensando em tudo que a gente já viveu. 

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