Tudo aconteceu tão rápido que Marcela nem entendeu. Foi como um suspiro, um espirro ou um piscar de olhos. Um momento apenas. Sentada no metrô, voltando pra casa, lendo um livro, como todos os dias uteis. Era apenas mais um dia de trabalho. A recém segunda feira. Tinha uma semana inteira pela frente.
A porta do metrô se abriu na estação. Um milhão de pessoas entraram. Outro milhão saíram. Marcela seguiu sentada. Sem tirar os olhos do livro. O rapaz do seu lado se levantou. Uma senhora sentou. A senhora ficou resmungando algo bem baixinho.
Marcela perdeu a concentração e resolveu prestar atenção nas lamurias da senhora. Deveria ter uns 80 anos. Estava bem vestida. Cabelos bem penteados e presos num daqueles coques de vovó. Usa um óculos grosso na ponta do nariz. E resmungava baixinho.
O ouvido de Marcela se esforçou ao máximo pra entender o que a velhinha dizia. Mas quanto mais ela tentava menos conseguia. Foi nesse momento que ouviu assim: "Marcela toma cuidado com o homem do outro lado"
Ela virou pro lado, viu o homem. Um homem bem arrumado com um jornal na mão. Voltou a virar pra senhora e lá já estava outra pessoa sentada. Olhou novamente pro homem e ele também havia sumido. Um milhão de pessoas descendo e outro milhão subindo no metrô. Não viu mais os dois.
Será que tinha imaginado? Talvez andasse tão cansada que andava delirando. Como a senhora saberia seu nome? E qual o perigo que o homem apresentava? Tentou esquecer lendo seu livro mais um pouco. Levantou. Um milhão de pessoas subindo e ela tentando descer.
Foi caminhando pra casa como todos os dias. Meio desconfiada, a todo minuto olhava pra trás. Teria ficado paranóica com a senhora? Meteu a mão na bolsa pra pegar a chave. A bolsa estava vazia. Não tinha chave, não tinha carteira, não tinha agenda, não tinha celular. Não tinha nada.
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