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Milagre de carnaval

Sentada na esquina, depois de pular atrás do bloquinho de rua e beijar todas as bocas do caminho, ela esperava. Esperava por ele. Pelo calor dos braços conhecidos, pelo amor não mais correspondido, pelas noites quentes. Esperava pelo milagre do carnaval. Mesmo que fosse uma festa pagã e sensual.

Quem disse que a magia só existe onde tem ritos, tradições e passagens. Poderia ser que toda a boa energia emanada, pelas milhares de pessoas felizes que circulavam pelas ruas, lhe trouxesse o que tanto queria.

O cansaço, o álcool e a desilusão lhe tiravam as esperanças. Ainda assim acreditava. A qualquer momento ele podia cruzar seu caminho e quando os olhos se encontrassem o amor voltaria.

Resolveu levantar, correr atrás do bloco novamente e acreditar que alguma coisa boa iria ressurgir.

Não demorou pra encontrar o ritmo das passadas e das bocas alheias. Era carnaval. Bocas e pulos faziam parte da tradição. Mesmo com os pés já doloridos, a maquiagem desmanchada e os cabelos suados, seguiu a cadência dos ritmos. A música contagiava, era fácil esquecer do que esperava.

Mas a vida não esquece. O destino é implacável e como dizem os que creem, o que a gente pede o universo devolve. E foi assim que numa esquina os braços conhecidos a ampararam do tombo inevitável. Foi assim que no meio da multidão as bocas se encontraram sedentas pela falta que sentiam uma da outra. Milagre de carnaval.

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