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Eu decido ser feliz

Eu decidi mudar de vida. Ok, não foi uma decisão assim, assim... Foi meio que consequência de uma furacão que passou na minha vida profissional e em menos de uma mês me deixou desempregada e com uma mão na frente e outra atrás, cheia de contas para pagar e sem um puto no bolso. Mas não é da falta de grana que eu quero falar. E sim da minha decisão de mudar de vida. Já fazia algum tempo que eu me sentia cansada. Me sentia sempre irritada e na maioria das vezes, apesar de manter o sorriso amarelo de canto de boca, eu estava triste. Cansada. Destruída por dentro e exausta de remar, remar e remar e cada vez afundar mais. Eu queria um tempo. Mas não existia esse tempo. Até que por uma vontade do destino ou da crise, como quiseres, esse tempo veio de forma abrupta e devastadora.

Em outras épocas, eu estaria chorando. Pensando que meu mundo havia acabado. Que me jogar da janela seria a única alternativa. Talvez estivesse em total depressão. Mas dessa vez não. Talvez seja a maturidade, ou talvez seja todo o estresse e responsabilidade da vida profissional dos últimos tempo, não sei. Mas o fato é que estou, de certa forma, feliz. E muito. E, as vezes, consigo por alguns segundos até rir de estar desempregada. Ironias da vida.

Nas últimas férias em família que tiramos, dos 20 dias, 18 deles eu passei trabalhando. A distância. Grudada no celular, utilizando o bloco de notas pra redigir matérias, textos, respostas a imprensa. Resolvendo todos os problemas da humanidade, que insistiram em acontecer nos únicos 20 dias que me permite viajar.  Em um dos dias, a gente na praia. Meu marido tomando uma caipirinha, Pedro brincando com baldinhos e areia enquanto comia um pastel de queijo e eu? Eu grudada ao celular. Respondendo demandas por whatsapp. Naquele dia eu me dei conta que não queria viver assim pra sempre. Eu tinha sonhos? Onde eles pararam? Eu tinha vontades, eu vivia, eu era feliz. Onde estava esse meu eu? Com certeza, ali na praia, naquele momento, que ele deveria estar mais presente que o meu eu profissional, ele não estava. Aquilo não era vida.

Eu sobrevivia na selva de pedras do asfalto, sendo inundada por todas as coisas que eu queria ter e esquecia quem eu queria ser. Eu não conseguia enxergar o céu. Não conseguia respirar. Estava sufocada em trabalho. Claro, ele me dava dinheiro. E não é isso que gente adulta faz? Ganha dinheiro? Pra gastar dinheiro. Foi nesse dia na praia que eu descobri que eu não queria mais dinheiro. Eu queria ser, queria realizar. Queria me encontrar. Então acredito, que esse dia na praia, tenha sido fundamental para, hoje, eu não estar descabelada, deprimida e desesperada pelo desemprego que bateu a porta. Pois foi nesse dia que eu decidi que eu iria mudar de vida. Só estava esperando o momento para fazer isso. Só que nem sempre a gente consegue planejar, exatamente como será e ai o cosmos conspira ao seu favor (ou não) e da aquele empurrãozinho que você precisa.

Sabe aquela história de quando se fecha uma porta, sempre se abre uma janela? Pois é. Se a janela não abrir por vontade própria a gente arromba. Mete a cara pra fora e começa uma nova história.  E tem que ser desse jeito pra depois a gente não se arrepender do que realmente queria ser. Então eu decidi mudar de vida. Aquele dia na praia. E agora estou sendo o que eu quero ser. E fazendo o que eu quero fazer. Cuidando de mim. Me permitindo viver. Criando uma nova rotina, como novos hábitos. Mais saudáveis. Mais felizes.

Pode parecer babaca, mas agora eu medito. Treino todos os dias.  Faço refeições na hora certa. Eu almoço todos os dias. No último ano eu conto nos dedos as vezes que eu almocei, na hora certa e comi comida de verdade. Eu almoço, gente! E to achando isso o máximo. Resolvi cuidar de mim. Da mente ao corpo. Eu tenho rezado mais também. Agradecido mais que pedido. Claro, que a gente sempre pede algo. Mas tenho agradecido bastante. Eu tenho tempo de brincar com meu filho. E ele está mais calmo. Dorme melhor. Está até mais carinhoso e atencioso. Na minha nova rotina, ele me acompanha. Brinca comigo, ajuda a arrumar as coisas e da aquele tom colorido ao dia-a-dia. Eu voltei a escrever. A transformar sentimentos em palavras, a colocar para fora o que está aqui dentro. A colocar em prática meus projetos.  E vou parar de fumar. Estou me tornando uma pessoa melhor. Estou sendo ao invés de estar tendo.

Sei que vou ralar muito, correr atrás do que realmente quero. Tentar achar um lugar ao sol. Buscar novos horizontes. Sei que vou precisar de tempo e de espaço e que vai ter momentos em que vou me desesperar porque as coisas não andam como eu gostaria ou com a velocidade que eu necessito. Mas lembra? Se a janela não abrir a gente arromba? Então vou arrombar as janelas se for preciso e vou gritar aos quatro cantos, para que se espalhe com o vento que eu quero ser feliz!

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