Em tempos que pedimos desculpe o transtorno mas preciso falar de alguém e personificamos o amor com um nome eu peço licença e quero falar só de amor. Sem nome, sem rótulos, sem marketing ou qualquer outra intenção que não seja o próprio amor. Eu tenho 36 anos e já me apaixonei inúmeras vezes na vida. E mesmo depois de casada me apaixonei outras tantas vezes. Por coisas, por pessoas, por ideias, objetos, lugares e conversas. Me apaixono diariamente por coisas novas, por livros, por personagens, por séries, filmes e por tantas outras coisas que acontecem no dia a dia que eu nem lembro mais pelo que me apaixonei ontem.
Você consegue se lembrar o que fez você se apaixonar pelo seu namorado de dez anos atrás? Eu me lembro. Foram os braços dele. Nossa foi paixão a primeira vista. Um calor me dominou e eu só consiga ficar imaginando aqueles braços me enlaçando e me apertando… Mas isso foi paixão, foi tesão, foi uma vontade maior do que meu consciente poderia dominar, foi química. Não foi amor. O que fez eu amar meu namorado de dez anos atrás (que é meu marido há 8 anos) foi outra coisa. Outras várias coisas. Foi seu jeito atencioso e preocupado. Foi o cuidado que tinha comigo, as conversas sem pé nem cabeça, os planos conjuntos, a teimosia dele. A mania de arrumar a cozinha mas deixar o guarda roupa de cabeça pra baixo. Sua total obstinação quando tem um meta e sua falta de foco quando tem que fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Foram suas piadas. Foram seus abraços. E até o seu ronco que me perturba a noite. Amor é conviver com cada qualidade e cada defeito e não querer mudar nada. Amor é construção, é tijolo em cima de tijolo. É cada ruga que a gente conquista junto. É cada abraço no final do dia. Cada vez que o outro está mal e a gente estende a mão. Amar é conviver e sentir falta não porque precisa, mas porque gosta. Outro dia uma amiga confessou que após 18 anos de casada quer se separar. Ela quer ser feliz e vê o relacionamento acomodado. Então questionei o que ela realmente buscava e ela respondeu que buscava reciprocidade. Que queria alguém que mostrasse a ela como ela era importante, que a fizesse sentir especial, amada, com pequenos gestos. Outra amiga se queixava do marido, dizia que não suportava mais. E quando a gente pergunta porque então não se separa a resposta é medo de ficar sozinha. E então eu fiquei pensando como pode ser amor? Como pode ser amor se o que nos une a outra pessoa é medo ou insatisfação pessoal? Como a gente pode amar se não começamos pelo ponto mais importante: amar a nós mesmos. E ai veio o texto do Gregório, lindo, bem escrito, cheio de poesia e um baita marketing pro seu filme que estava sendo lançado. Então veio a reposta do Rafinha Bastos cheio de verdade e de boas doses de realismo e veio o texto de uma amiga, de outra amiga, de outro amigo e de uma porção de gente no Facebook. E eu continuei pensando afinal como pode ser amor.
É difícil definir o amor. Quase impossível dar significado ao sentimento, traduzi-lo em palavras ou tentar explicar de forma didática. E cada um de nós tem o seu jeito de amar e demonstrar. Mas a gente sabe quando é amor. A gente sabe que não é só paixão, tesão ou química. Então eu volto ao início desse texto e digo que eu me apaixono todos os dias, milhares de vezes no dia, por coisas, pessoas e conversas. Algumas viram amor e ficam pra sempre. Outras terminam da mesma forma que começaram. E quando é amor a gente só quer amar, sem querer nada em troca. Independente se for uma pessoa, uma coisa ou uma conversa.
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