Chove. Chove demais. Não são apenas águas que se condensaram em nuvens e resolveram cair no dia de hoje. São lágrimas. Chove o choro de uma multidão. Uma multidão que se angustia com tantas coisas que acontece no mundo a nossa volta. São lágrimas de uma população, que acorda cedo, passa o dia inteiro correndo atrás da vida, para no final do dia ligar a tevê e só ver injustiça. Choram pais, mães, irmãos e amigos. Chove lágrimas de amores interrompidos.
Chove tanto que parece que o pranto não terá fim. Não foi só mais um acidente aéreo. Foi um acidente provocado pela ganância. Não é só mais uma medida governamental que foi aprovada na calada de uma noite. São lágrimas por toda uma população sofrida que chora os desmandos de políticos mesquinhos. São médicos que faltam em hospitais. São filas que levam vidas. São crianças sem merenda. São pessoas sem abrigo.
A lágrima daquela mãe que perdeu seu filho, numa esquina da vida por conta de um tênis, numa encruzilhada por causa da bebida, numa sociedade pervertida, num hospital esperando atendimento, num acidente trágico ou não tão trágico assim. São tantas mães, tantas dores, tanto choro. São saudades transformadas em liquido, que transbordam dos olhos inconformados de quem nunca mais vai ver o sorriso da razão do seus dias.
São lágrimas dos filhos, que se escondem em cantos chorando a ausência do pai que nunca virão a conhecer de fato. Que não estarão presentes em formaturas. Que não serão conduzidas até o altar. Que não terão a alegria de lhes dar netos. São broncas que não serão levadas, sorrisos não compartilhados, conquistas não realizadas. Tantas dores que deságuam das nuvens.
O pranto das amadas deixadas, com suas histórias interrompidas, a vida de seus homens ceifadas. A chuva converte a dor, lava a alma, deixa tudo mais melancólico e em coro, entre lamúrias e sentimentos não entendidos, as nuvens carregadas, transportam suas dores, para os quatro cantos do mundo, fazendo com que o vento, quem sabe alcance, aqueles que se foram.
E em coro, de todos os lados, ouvimos um pensamento único, uma vontade crescente, uma chuva que insiste, que limpa e se espalha, que chora nossas tristezas e que de uma forma mais que urgente, implora "muda, mundo". Porque se você não mudar a gente não vai aguentar.
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