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Assédio


Ele repetia “é que vai tirar a minha liberdade, entende?”, enquanto sua mão insistia em tocar no meu braço, mesmo eu tendo me afasto e fechado o rosto no primeiro toque.

Enquanto eu pensava em como sair daquela situação, numa loja de conveniência, com duas atendentes mulheres e 3 policiais militares tomando café, que não atenderam ao meu olhar de socorro, ele fazendo comentários sobre meu filho e a cachorrinha, sentados ao lado de fora. De como eram simpáticos e bonitos, os olhos brilhando, observando a criança de dez anos.

O coração acelerado, enquanto eu fugia, tentando tirar meu filho da situação, os toques na minha pele continuavam, por mais que eu me esquivasse, procurasse espaço, enquanto aguardava na fila para pagar e correr dali.

A mão suando frio, a paralização temporária de qualquer tipo de reação. Eu poderia ter gritado, ter dito que estava sendo inconveniente, que eu estava me sentindo incomodada, mas travei pensando se aquilo era assédio ou só inconveniência (e qual a diferença?) Refletindo se não era coisa da minha cabeça, se a intolerância não era minha…

E eu nem o conhecia. Ainda assim, eu paralisei diante do assediador, porque é isso que o machismo estrutural fez da gente: sempre culpa, mesmo quando vítima.

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