Quando dói fundo no peito a tua ausência me encerro na sala de estar de minha memória e de lá acompanho um vídeo de nossos momentos felizes. Revejo cenas várias vezes seguidas. De trás para frente. De frente para trás. Não me canso. Fico por ali ouvindo nossos diálogos sem pé nem cabeça. Repito as frases feitas, que na tua voz eram perfeitas. Escuto tuas canções e declarações. Procuro os arquivos de texto e releio todas as cartas de amor. Lembro de cada detalhe do teu corpo, como um filme em 3D sinto teu toque, percebo as vibrações do ambiente e recorro ao olfato para me embriagar com teu cheiro.
Na sala de estar da minha memória só existe eu e suas lembranças. Todas arquivadas. Vez ou outra assisto uma de nossas brigas e dou risadas sonoras lembrando dos motivos bobos de cada uma delas. As vezes, consigo sentir o gosto dos teus lábios. Em outras sinto o peso do teu corpo. Consigo até ficar vermelha revendo cenas nossas de amor. Está tudo ali, catalogado, com datas, sentimentos, cheiros e gostos. Em uma ordem absurdamente desordenada que sem sentido nenhum faz todo sentido para mim.
Não sei porque você se foi. Não entendo dos planos divinos. Não conheço as regras do jogo. Fiquei com as lembranças. Me contento com elas. Aguardo o momento do acerto de contas e do nosso encontro pacientemente. Enquanto isso, sobrevivo, na sala de estar de minha memória. Essa sala que permite nossos reencontros. Este lugar tão meu que se tornou sua morada. Um pequeno espaço, iluminado com luzes mágicas, cheio de livros com nossas histórias e com aquele sofá, o nosso preferido.
Sei onde você está. Por que basta eu entrar na sala de estar para te encontrar. Só não sei porque você somente está lá. Você acabou sumindo em seu mundo ou neste mundo e de alguma forma nunca mais se encontrou. Se perdeu em planos, ideias e vidas que de nada acrescentaram em uma vida real. Assim, você partiu, indo embora, cedo demais. E agora vive somente na nossa sala de estar.
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