Das coisas que aprendi na vida, a mais difícil foi aceitar que a dor que é provocada em ti, reflete em mim. Eu tentei, por vezes fingi, neguei, fiquei alheia, fiz pouco caso, mas não evitei. Lá no fundo, onde só nós enxergamos, suas dores me causavam desconforto.
Então tentei assumir. Tornar publico, dizer para o mundo, a plenos pulmões, que eu realmente sentia, me importava, queria estancar seu sangue para aliviar o meu peito. E fui chacoteada. Virei motivo de piada, porque dizer que eu sentia tanto quanto você, nesse mundo em que o umbigo vale ouro e a vantagem é a moeda de troca, eu era apenas uma otária.
Guardei para mim minha dor, que era sua, mas refletia em mim. Pensei, refleti, procurei respostas onde não sabia o que encontrar. Mas eu queria entender, porque diante de tanta dor, outros não sentiam, não amavam, não se importavam. Eu fui em busca de um sentimento que, depois de certo tempo, entendi, que o ser humano estava desabilitado a sentir. Empatia.
Não foi fácil entender que entre tantos bilhões de pessoas, poucas nascem com esse gen. Mas felizmente não foi impossível perceber, depois de realmente entender, que eu não era a única a sentir. Que outras pessoas ainda se importavam, que outros corações também sangravam pela sua dor.
Pouco importa se a sociedade te considera um louco, te enquadra em um lado político, diz que você é trouxa. Também não me interessa se eu coloco o outro em primeiro lugar algumas vezes e muito menos que a recompensa seja um sorriso, mesmo que seja apenas meu.
Entre tantas vacinas que a medicina ainda precisa inventar, uma delas devia ser contra a apatia. Ou um composto, contra a apatia, egoísmo e necessidade de levar vantagem. Por sorte hoje me vejo cercada de pessoas que se preocupam pelo próximo, mas somos uma parcela ainda pequena, diante da vastidão de gente. Porque é mais fácil fingir que o outro não existe do que se colocar no lugar dele. Ao mesmo que é difícil dormir a noite sabendo que o outro sangra quando você está confortável em sua cama quente. Mas no final das contas, eu durmo em paz, porque sei que ao dividir o meu cobertor, esquentei a sua pele fria.
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