Enquanto olhava para o mar com o sol se pondo, pensava em todas as minhas resoluções de ano novo. Eram as mesmas que fiz nos 5 anos anteriores e nunca cumpria. Por que eu insistia se no fundo eu sabia que não iria fazê-las mais uma vez? Já era o segundo dia do ano, no primeiro a recuperação da ressaca, que eu tinha prometido a meia noite da virada que não teria, havia me impedido. E no segundo dia? A minha preguiça. Ela era crônica. Um empecilho que eu mesma colocava em minha vida e deixava que tomasse conta. Um eterno procrastinar sem motivos, apenas para que depois a culpa me consumisse.
A praia, ainda lotada, eram uma das resoluções. Me mudar em definitivo. Sentir a paz e tranquilidade, não daqueles dias de festas e verão, que o mar me trazia. Viver na praia, inverno e verão. Desfrutar dos peixes, dos frutos do mar, da calmaria da vida de uma região de férias. Acordar cedo, caminhar na areia, me alimentar de forma mais saudável, dar valor as coisas simples e de quebra trabalhar menos e melhor. Eu podia, eu precisava, mas eu adiava. Quem sabe eu não poderia encontrar um novo amor? Tantas pessoas soltas por aí, procurando algo diferente. Impossível que só eu tivesse o dedo podre na vida. Morar na praia era um sonho. Ou a promessa de um novo começo. O que eu realmente estava esperando pra isso? Meus pensamentos se perdiam e quanto mais o sol se escondia, mais vazia as areias ficavam e mais decidida eu estava que, esse ano, de um jeito ou de outro, eu iria cumprir as minhas resoluções. Talvez nem voltasse para a cidade. Bastava uns telefonemas, organizar umas coisas. Um caminhão de frete e pronto. Por lá eu poderia ficar. Pra sempre. Criar minhas raízes, minhas histórias e viver novas aventuras. De que adiantava adiar os sonhos? E se amanhã eu não estivesse mais aqui para vivê-los? Era definitivo. Não voltaria pra não ter a chance de adiar, mais uma vez, meus planos. Em meio a todos os meus devaneios, uma agitação nas ondas me chamou a atenção. As pessoas, que esvaziam a praia, começaram a regressar, aglomerando-se na beira do mar. Algo ruim havia acontecido, algo péssimo, por sinal. Afinal, o ser humano tem um doença chamada curiosidade mórbida. Eu não queria ver. Não queria saber. Aquela cena não seria capaz de me tirar a decisão que eu havia tomado. Mesmo assim, meus pés não me obedeceram e em poucos segundos eu me via, estirada na areia, com pessoas ao meu redor, algumas com a cara assustada, enquanto um homem, com braços fortes e colete salva vidas, me fazia respiração boca a boca e massagem cardíaca. Tudo ficou preto, os pensamentos confusos e quando abri os olhos, um sorriso tomou conta da minha visão. Não existia mais dúvidas. Esse ano eu cumpriria as minhas resoluções e como uma segunda chance de vida, quem sabe de quebra aquele sorriso não poderia virar um novo amor.
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O blog Causos & Prosas participa do desafio literário 365 dias de escrita. Este texto é parte integrante do desafio organizado pela Editora Digital e Consultoria de Marketing para autores Escritor Publicado.
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