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Laços rompidos




Esse ano uma das coisas que me deixaram muito grata é que eu quebrei um loop de abandonos.  Gerações e gerações de mães e filhas que não se davam bem, que não tinham diálogo, que não se escutavam e que competiam. 


Do outro lado, gerações e gerações de mães e filhos estereotipados, ridicularizados, transformados em protótipos fracassados dos ideais maternos em chantagens emocionais que um apêndice pode ser arrancado, porque no amor e na guerra, vale tudo. Até sacrificar um filho. 


Nas marcas da minha pele as sequelas daquilo que recebi como herança do desamor. Nas cicatrizes da alma a rejeição de milhares de mulheres. Nas feridas da vida a constante solidão.  A solidão que me assola na memória dos quatros anos:  o quarto imenso e azul, para combinar com meus olhos verdes, silencioso e escuro, na casa em que na sala eu não compreendia os fantasmas. É fácil olhar pelo lado de fora paredes pintadas de branco, aberturas de verde, a grama aparada, na ladeira de paralelepípedos. Ninguém olha pra dentro. 


A falta do pai, o delito da mãe, o trocar de farpas constantes, as carícias estranhas, os ciúmes exagerados. A doença sempre tão presente, os umbigos salientes, as aparências importantes e a fragilidade de adultos disfuncionais. A solidão na manada que não me aceitava. 


Então a minha filha chega e quase 28 anos depois, alguns de terapia e muito olhar para tudo que a menina dos olhos verdes sobreviveu, ela me conta algo tosco. Escuta alguma besteira minha, me confidencia e me ouve, pede ajuda e oferece abrigo. Me aceita e é aceita. Convivemos novamente no mesmo teto e não há brigas, gritos, acusações. 

Laços foram rompidos com o passado, para que presente seja presente e o futuro, sem abandonos. 

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