Das muitas voltas e sortes que já tive nessa vida, uma delas foi fazer uma disciplina eletiva, na faculdade, chamada Sociologia do Rock. Um cara muito doido, que atendia pela alcunha de César Beras, dava essa aula, na época em que a Unipampa só tinha um prédio em São Borja e utilizava as dependências de um cursinho pra algumas matérias. Sociologia do rock era uma dessas.
Hey Ho! Let’s go!, chegava o Beras dizendo e a gurizada toda se acomodava pra ouvir um pouco mais sobre o estilo musical que mudou uma geração. Não tinham as drogas, surubas ou orgias, como dizem que acontecem nas universidades federais, mas tinha muito rock. Aquelas tardes eram de música, ideias, conversas e aprendizado, que talvez, só vivendo tempos sombrios como os atuais, conseguimos entender.
Foi nos anos 50, pós Segunda Guerra Mundial, que o ritmo começou a ganhar força, surgindo nas comunidades afro-americanas, originário das colheitas de algodão dos Estados Unidos, onde os escravos cantavam para celebrar sua espiritualidade e seus ancestrais. Essa cantoria, que dá início ao rock, também falava sobre as mazelas da escravidão, estabelecendo assim uma relação direta entre o ritmo e a realidade social.
Ao contrário do homem branco, conhecido como Rei do Rock, e de quem não tiro o mérito de levar o ritmo adiante, Elvis Presley, o rock, começa mesmo com os escravos, e seu pai é Chuck Berry, o primeiro a despontar com o ritmo em rádios. Mas há também uma mãe, antes mesmo do pai, chamada Sister Rosetta Tharpe. Em 1938, antes do Chuck fazer sucesso nas rádios, essa percursora do ritmo, cantora gospel americana, misturava influências do jazz e do blues, criando um estilo único, que depois seria nomeado como Rock'n'Roll.
E mesmo a gente sabendo quem é a mãe e o pai do Rock, duas pessoas negras, até hoje é no Rei Branco que se pensa ao falar do estilo ou da data. Por que será, né?! Talvez seja só mais um apagamento histórico, propositalmente causado pela sociedade patriarcal ariana. Mas a verdade, a verdade mesmo, como quase tudo na nossa sociedade, é que rock é coisa de mulher e protesto social, criado por aqueles que sempre foram atacados pela sociedade “de bem”.
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