São tantas histórias, tantos absurdos em sequência que eu me pergunto: o que falta pra gente realmente se rebelar?
No Brasil, a cada dez minutos uma mulher é estuprada. A cada minuto, oito mulheres são agredidas. Histórias que não ganham destaques na mídia ou redes sociais, mas que acontecem a cada 7,5 segundos. Essas mulheres não tem nomes, não tem rostos, não tem destaque, mas todas nós as conhecemos: é a mãe, a filha, a prima, a irmã, a vizinha, a amiga de outra de nós. São vítimas anônimas de um sistema que sempre vai nos massacrar.
Na semana passada, o caso de uma menina de dez anos, estuprada, ganhou destaque nas redes. A consequência da violência sofrida foi um feto em seu ventre. Pela nossa legislação, vítimas de estupro tem direito ao aborto legal, assistido em um hospital da rede pública. Mas essa menina, que já estava lidando com todos os traumas do ato em si, foi novamente violentada ao ter seu direito negado. Em busca de um pouco de paz — se é que é possível depois de tamanha barbárie —, procurou a justiça e o que vimos, foi tão absurdo, que não da pra aguentar nem mais um pouquinho.
Uma juíza (vergonha desse tipo de mulher), chamando estuprador de pai, perguntando a uma criança se ela aguentaria ficar com a outra criança dentro do seu corpo pra deixar uma família feliz. Parece o conto da Aia, uma ficção escrita por Margareth Atwood em 1985, onde mulheres são estupradas com o apoio de outras mulheres para que gerem filhos pra alta sociedade.
A gente pode ficar horas falando só sobre essa situação. A criança foi afastada da mãe — outra violência —, foi submetida a um interrogatório sem nenhum tipo de cuidado com a vítima e a juíza foi promovida depois do show de horrores. Mas paremos aqui, afinal, só o tempo que levei pra escrever essa frase, mais 8 mulheres foram agredidas em algum lugar desse país.
Corta. Nem nos recuperamos desse absurdo, e as imagens de uma procuradora sendo brutalmente espancada em ambiente profissional, por um colega do qual ela já havia dado queixa por má conduta, ganharam a mídia. Só isso já embrulha o estômago, mas não para por aí. Na delegacia da mulher, onde ela foi procurar proteção, um delegado (por que temos homens nesses locais???? Isso é violência institucional com as vítimas!!!) libera o agressor e dispensa a vítima, com o rosto destruído sem nem uma medida protetiva se quer. É só mais uma apanhando, né?
Corta. Os Estados Unidos, em uma decisão da Suprema Corte, revoga um direito conquistado há mais de cinquenta anos sobre o aborto. Enquanto tantos países, andam no sentido de dar direito as mulheres de decidir sobre seu corpo e sua prole, a potência do capitalismo vai na contramão. Corta. Respira. Deita em posição fetal. Afinal, só o que importa são os fetos.
Mas você acha que acabou? Não, porque além das 1008 mulheres estupradas nessa mesma semana, quando achamos que vamos respirar, ter paz, e descansar no sábado, mais uma bomba na sua autoestima feminina.
Por uma ganância sem escrúpulos por audiência, vemos dois escrotos que dizem fazer jornalismo (e aqui mais uma mulher que nos envergonha) violentando publicamente, outra vítima de violência sexual. Uma jovem atriz, conhecida por papéis doces e infantis até pouco tempo, engravidou, como consequência de um estupro. Descobriu tarde demais e na circunstância que estava, com todo o trauma do abuso vivido, resultando naquela feto que ela se quer soube que estava em seu corpo, decidiu, legalmente, colocar a criança para adoção.
E mais uma vez. Não foi sobre a violência. Ninguém questionou sobre o estuprador. Foi sobre a mulher. O comportamento dela, a culpa que sempre jogam pra gente, até mesmo sobre as violências que sofremos. Estupradas, expostas, julgadas. As vidas das mulheres pouco importam. É sempre sobre a compulsória maternidade que nos enfiam goela abaixo, como forma de controlar nossos corpos e nossas vidas.
Não da pra aguentar mais. Quantas mais de nós serão agredidas, violentadas, mortas até que de fato nos rebelemos? Ser mulher é ter um medo constante: de andar na rua, de falar, de tomar decisões. Medo do estupro, medo do julgamento, medo de ser quem somos. Porque a culpa, sempre é jogada em nós. Seja sobre a roupa que vestimos, o jeito que nos comportamos, que falamos, andamos ou pelo fato de existirmos. Não é mudança, não é reforma, não é revolução. É rebelião. Precisamos, pelas nossas próprias vidas nos rebelar contra todo o sistema patriarcal que nos oprime pra manter a mulherada no controle.
Dia 02 de outubro está chegando e eu imploro a todas que estão cansadas de ver mais e mais vítimas sendo violentadas por homens, pelo sistema, pela saúde, pelo judiciário, pela mídia, pela polícia e por toda a sociedade, a fazer essa rebelião. E como começamos? Votando em mulheres para todos os cargos possíveis.
Nas últimas eleições, as mulheres somavam um total de 77.649.569 aptas ao exercício do voto, representando 52,49% do eleitorado brasileiro. Mesmo assim elas ocuparam 16% das vagas nas Câmaras de Vereadores e 12,1% das prefeituras do país. E não foi por falta de candidatas, pois foram mais de 180 mil inscritas, representando 33,17% dos candidatos em 2020. Tá faltando voto ai, gurias!
Pra mudar alguma coisa, precisamos de mais mulheres ocupando cargos públicos. Necessitamos que a política também olhe pra nós e acabe com esse genocídio feminino. Clamamos por direitos, por proteção, por cuidado. Mas a gente tá aí há anos, vivendo nessa sociedade patriarcal falida e não tem jeito. Eles nunca vão olhar pra nós, porque do jeito que está, tá tranquilo pra eles. Batem, estupram, não criam os filhos… Homens não irão abrir mão de sua violência e seus privilégios porque estamos morrendo.
Por isso a gente precisa uma das outras, por isso votar em mulheres é mais que necessário: é uma questão de sobrevivência. E não só a minha ou a sua, mas também das nossas filhas. das nossas netas, bisnetas e todas as gerações que nascerão. E eu sei, que nesse mundo dominado por homens, muitas vezes nem conhecemos as mulheres que estão tentando nos ajudar de alguma forma, por isso, peço aqui que deixem o nome de pré candidatas, independente de cargo ou estado, pra que a gente comece a olhar pra elas, apoiar e escolha uma de nós nessas eleições pra representar toda a angústia de ser mulher em um mundo que só nos vê como útero ou objeto.
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