Acordei sem querer acordar. Minha cabeça doía e o teto do quarto parecia que ia desabar a qualquer minuto. Culpa da azeitona? Claro que não. Culpa do vinho vagabundo que aquele cara me ofereceu.
Ele era charmoso. Tinha um bom papo. Pelo menos foi isso que eu vi aquele dia no bar. Tudo aparência. O cara era um tremendo 171. Não era médico. E sim enfermeiro. Não morava sozinho e sim com a mãe. E não entendia nada de vinhos.
Não sei porque sempre me meto nessas roubadas. Qual é? Com tantos anos de experiência eu ainda não aprendi a separar o joio do trigo? As aparências enganam muito. Principalmente esses que parecem perfeitinhos demais.
Um cara que ainda esteja solteiro com 35 anos com certeza tem problemas. Sem nenhuma ex mulher e sem filhos? Ou o cara é gay ou mora com a mãe. E, sinceramente, prefiro os gays. Essa coisa de ficar morando com a mãe. É encrenca na certa.
Já é difícil manter um relacionamento a dois. Imagina a três? O problema deve ser meu. Sou muito exigente. Odeio sogras. Quero alguém que se torne parte da minha vida e não alguém que mude ela. Alias, adoro a minha vida.
Gosto do meu trabalho. Da minha rotina. De sair com as amigas. De poder ir e vir a hora que eu quero sem dar satisfação a ninguém. Gosto da bagunça da minha casa. Adoro comida congelada e só sinto falta de alguém mesmo no inverno. Provavelmente porque demoro a dormir já que não consigo esquentar os pés.
Então por que eu preciso de um namorado? Qual é a cobrança da sociedade? Não posso ser solteira, independente e feliz? Essa necessidade de ter alguém me incomoda. Minha mãe me cobra netos. Diz que daqui a pouco vou passar da idade. Tenho trinta anos e muita coisa pra fazer. Não preciso de filhos ou de um marido agora.
Ela tenta me convencer de que depois me sentirei muito sozinha. Não quero mais passar por essas tentativas só pra agradar meus pais e a sociedade. Quero alguém bacana. Alguém que não bagunce a minha vida, que, simplesmente, faça parte dela.
Não vou ficar pra titia. Uma hora aparece alguém e pronto. Tudo fica resolvido. Mas por enquanto vou aproveitar. Viver e me divertir. Namorar com muitos sem dor de cabeça. E, sem vinhos baratos, de preferência.
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