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Depressão pós parto na manchete do jornal

No meio da noite o telefone parecia anunciar a tragédia. Demorou alguns minutos até que ela entendesse que estava tocando aflitamente. Seu coração disparou pensando no que poderia ser. De tantas coisas que passaram em sua cabeça, entre os segundos que levantou da cama e correu até a sala, nada se comparava ao que acabava de ouvir. - Estou vivendo com ele há um ano e meio e cansei dessa história. Por isso estou lhe ligando. Desligou o telefone e espiou o berço de sua filha. A menina, recém nascida, ainda não completará um mês de vida. "Um ano e meio" ressoava em sua cabeça como um sino. Obviamente ele não estava em casa. Mais uma vez tinha lhe dado uma desculpa, que ela sempre acreditava, para não estar ali. Então, como se alguém a sacudisse entendeu: um ano e meio que ele dava desculpas, que estava sempre atarefado, viajando, trabalhando e ausente. Um ano e meio que ele a traía. Como não desconfiou de nada. 

Esperou ele chegar em casa no outro dia. Ele disse que tinha acabado tudo com a outra que viveria com ela e que a reconquistaria. Ela acreditou. Mas ele continuou ausente. Então, num dos dias que ele não voltou, criou coragem e foi atrás dele no serviço. Ao chegar lá, todos a olhavam com cara desconfiada. Até que alguém lhe disse "mas ele acabou de sair daqui com a esposa". Ela voltou pra casa, tentando fingir que havia sido um engano. Apenas um colega de serviço distraído que se confundiu. Mas no fundo, mesmo não querendo acreditar, sabia que ele estava com a outra.  Mais uma vez resolveu perdoar. Ele dizia que a outra o havia procurado e só saíram para conversar. Apesar dele só ter chegado em casa no outro dia a tarde, ela entendia que essas conversas poderiam ser bem complicadas e longas. Então a outra bateu em sua porta. Com um sorriso malicioso, uma criança um pouco maior que sua filha nos braços e outra na barriga. E ela, ficou tão espantada, que a deixou entrar. Ele disse que os filhos não era dele, que a outra era puta, tinha muitos amantes e ela acreditou. A outra disse que ele queria largar ela, mas tinha pena por ela ser assim, tão inocente, e que por isso ainda continuava com ela. E ele continuou ausente, a outra continuou a frequentar sua casa e até deixava a criança para ela cuidar enquanto precisava conversar com ele trancada no quarto.   Até que um dia, ela não lembra exatamente como tudo aconteceu até a polícia chegar. Lembra-se da faca em sua mão enquanto preparava o almoço. Lembra-se de ouvir a outra gemendo de prazer e rindo, lembra-se de abrir a porta do quarto onde eles estavam, lembra-se da cara de pavor da outra enquanto rastejava para sair da casa. Lembra-se de estar segurando o coração do marido na mão e do gosto que tinha tanto sangue em seu rosto. E da polícia. Na capa do jornal sensacionalista da cidade estava uma foto dela coberta de sangue, algemada e com o coração dele na mão. A machete dizia "Mulher com depressão pós parto arranca coração do marido e mata amante".

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