Me olhei no espelho agora e lá estava ela: a ruga. Perto dos olhos, num cantinho discreto que ainda não chama muita atenção. Talvez ela já esteja por ali a alguns dias, mas foi hoje que a percebi. Efeito do tempo? Talvez. Até que posso pensar que ela chegou tarde, afinal os trinta estão batendo na porta e a pele seguia lisinha, com a mesma elasticidade de uma criança.
A primeira ruga para uma mulher é igual a primeira menstruação, o primeiro beijo, o primeiro sutiã, a primeira trepada ou o primeiro fio de cabelo branco: a gente nunca esquece. A primeira menstruação marca o inicio das mudanças corporais.O primeiro beijo o início da vida amorosa. O primeiro sutiã traz o peso da sexualidade. A primeira transa é o marco da vida sexual. O primeiro cabelo branco revela a passagem e o peso das responsabilidade. Mas a primeira ruga?
A primeira ruga não mostra o início de nada e sim o fim. O fim da elasticidade da pele, o fim do vigor,o fim da auto estima. Deixei de ser uma menina. Agora sou uma senhora com todo o peso da palavra. Senhora lembra gente idosa. A ruga mostra isso. Ela, só por estar ali, presente, pode levar à depressão. Sério. Tem muitas mulheres que cometem o suicídio por causa delas. Acabam com suas vidas financeiras para pagar um botox só porque são incapazes de conviver com a ruga.
Não sei se foi os óculos novos (outro sinal de que os trinta estão batendo na porta com fúria) ou se ela realmente nasceu nessa noite mal dormida. Dormi mal porque dei um mal jeito no ombro (Nossa! Os trinta vão derrubar a porta!). Enfim sendo os óculos ou a noite mal dormida ela está ali. Bem no cantinho do olho para me mostrar que o tempo passa muito rápido. Que a vida é uma só e que viver intensamente é o melhor que podemos fazer. Em vez de ficar deprimida vou agradecer. Afinal não é todo mundo que chega aos trinta com uma única ruga no rosto e com a sensação de ainda ter vinte! Obrigada senhora Ruga por me mostrar que vivo muito bem e que posso me orgulhar de você!
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